Blog Cão Rafeiro

Todos os cães, Todos os dias

Todos os cães, todos os dias. 

Não me vou esquecer nunca da primeira vez que li este termo. No seu original em inglês soa bem melhor: “Every Dog, Every Day”. 

A minha caminhada a ajudar todos os cães que podia tinha começado bem antes, quando me deparei com este livro de Kay Laurence, a quem devo grande parte do conhecimento que hoje aplico, todos os dias, com todos os cães. 

Sou optimista por natureza. Gosto de encarar a vida com um sorriso e as dificuldades que aparecem com força e determinação.

No entanto… 

Somos egoístas, e isso reflecte-se na nossa relação com os cães que partilham connosco a sua vida. Há muito que aceitei que não posso ajudar todos, nem que me rodeie das pessoas mais dotadas, mais capazes, e encaro esse facto objectivo não como uma fraqueza, mas como uma força. Ajudarei um cão de cada vez, todos os dias. 

Fomos nós, há milhares de anos, que decidimos trazer os cães para a nossa vida, e devemos-lhes, no mínimo, uma atitude responsável, de cuidador, de protector, de progenitor. Os cães com quem tenho o prazer de partilhar o meu dia-a-dia dependem de mim para comer, sou eu que decido quando e onde passeamos, o que fazemos todos os dias depende de mim. E isso torna-me responsável. 

É “só” nisso que gostava que mais pessoas reflectissem, quando decidem levar um cão para integrar nas suas vidas. E não, não se trata só de pensar o que fazer nas férias. É muito mais do que isso. É uma vida de cuidados, de escolhas. E gostava que toda a gente se lembrasse que não foi o cão a escolher ter aquela vida, foi a pessoa. E que isso, só isso, deveria ser suficiente para a tornar responsável. 

No nosso país, na nossa comunidade, tem havido um desenvolvimento crescente da preocupação com o bem-estar animal, legislação e tantos outros quês. Ainda não é suficiente e, na era da internet e das redes sociais, é tão fácil obtermos reforço com a simples partilha de um post de um animal em sofrimento: achamos que fizemos a nossa parte. Questiono-me: estaremos a fazer o que faz falta? 

Vejo o cão (e o gato, perdoem-me, e todos os animais que trazemos para casa) como elementos da família, e como tal, é nossa missão não só assegurar que tem todas as necessidades básicas asseguradas, como garantir o seu bem-estar, a sua educação para a vida diária, para que possam ser todos “cães para todos os dias”. E tenho noção que tal não é fácil, na maioria das áreas urbanas sobrepovoadas onde vivemos, onde não há recursos disponíveis nem materiais que ajudem a manter a nossa convivência saudável. Mas é o que procuro transmitir, a todos os que me procuram, todos os dias – um dia-a-dia melhor para todos. 

A informação na era da internet está muito mais disponível, e há profissionais que podem ajudar. Há metodologias adequadas, e a ciência comprova que podemos ensinar os cães a conviver de forma humana e sem recurso a castigos e punições, e chatices, e gritos, e ferramentas que produzem dor e sofrimento. Viver com um cão (ou dois ou três) em harmonia está hoje ao alcance de todos que o desejem. 

Encarar as dificuldades como desafios, e querer superá-los é um passo que teremos que ser nós, humanos, adultos responsáveis, a tomar. Não podemos esperar que seja o cão a fazer todo o trabalho – e eles já fazem tanto, tão melhor – e, se queremos viver com um cão, devemos ter noção desta importante missão. 

Se vocês, todos os “cães rafeiros” que lerem este artigo, se sentirem motivados a melhorar a vida dos cães com quem vivem, todos os dias, um dia de cada vez, ficarei muito feliz. 

Maria Queiroz – Vinculum Animal